A TRANVERSALIDADE DA LÍNGUA PORTUGUESA NO CURRÍCULO UNIVERSITÁRIO ANGOLANO

The Transversality of the Portuguese Language in the Angolan University Curriculum

La Transversalidad de la Lengua Portuguesa en el Currículo Universitario Angoleño

Autor: Mário Simões de Sousa Araújo.

Ensaio Académico

RESUMO

O maior desafio social que se coloca ao cidadão da era hodierna é a da aquisição de competências que lhe permitam ser bem-sucedido numa sociedade em constante e variada mutação. Para que o indivíduo alcance esse desiderato, o ensino em Língua Portuguesa assume um papel preponderante não só como meio promotor do desenvolvimento das proficiências da escrita e da oralidade, mas também como fertilizante do pensamento analítico, crítico, conducente à sua participação activa na sociedade. Neste domínio, a escola assume-se como o primário meio de socialização onde o ser imberbe recebe conteúdos programáticos, éticos e deontológicos – através da transversalidade da Língua Portuguesa - que o habilitarão a dar o seu contributo para o  desenvolvimento da nação através não só do exercício de uma profissão, mas também de uma conduta social que se espera modelar.  Em termos comunicativos, o facto de o Português ser, historicamente, a língua oficial de Angola, deve requerer dos agentes educativos - concretamente dos professores -  um cuidado inovador para a sua qualificada implementação nos currículos escolares do ensino superior. Uma vez que a universidade é o espaço privilegiado para a consolidação, aprimoração e desenvolvimento do conhecimento científico e da componente humana, a transversalidade da Língua Portuguesa é uma inovação que se impõe para que o universitário se transforme em cidadão do universo, habilitado a impor-se em díspares cenários profissionais ancorados no Português. 

Palavras-chave: currículo universitário, Língua Portuguesa, transversalidade.

ABSTRACT

The greatest social challenge facing the citizen of today's era is that of acquiring skills that will enable him to succeed in a society in constant and varied change. In order for the individual to achieve this goal, teaching in Portuguese assumes a preponderant role not only as a means to promote the development of writing and oral proficiencies, but also as a fertilizer of analytical, critical thinking, leading to their active participation in society. In this domain, the school is assumed as the primary means of socialization where the beardless being receives programmatic, ethical and deontological contents - through the transversality of the Portuguese language - which will enable him to make his contribution to the development of the nation through not only the exercise of a profession, but also a social conduct that is expected to be modeled. In communicative terms, the fact that Portuguese is, historically, the official language of Angola, should require from educational agents - specifically teachers - an innovative care for its qualified implementation in higher education school curricula. Since the university is the privileged space for the consolidation, improvement and development of scientific knowledge and the human component, the transversality of the Portuguese language is an innovation that is necessary for the university student to become a citizen of the universe, able to impose himself in disparate professional scenarios anchored in the Portuguese.

Keywords: university curriculum, Portuguese language, transversality.

RESUMEN

El mayor reto social al que se enfrenta el ciudadano de la época actual es el de adquirir competencias que le permitan desenvolverse en una sociedad en constante y variado cambio. Para que el individuo alcance este objetivo, la enseñanza del portugués asume un papel preponderante no solo como medio para promover el desarrollo de las competencias escritas y orales, sino también como fertilizante del pensamiento analítico y crítico, que conduce a su participación activa en la sociedad. En este dominio, la escuela es asumida como el principal medio de socialización donde el imberbe recibe contenidos programáticos, éticos y deontológicos - a través de la transversalidad de la lengua portuguesa - que le permitirán hacer su contribución al desarrollo de la nación a través no solo del ejercicio de una profesión, sino también de una conducta social que se espera modelar.  En términos comunicativos, el hecho de que el portugués sea, históricamente, la lengua oficial de Angola, debería exigir a los agentes educativos, en particular a los docentes, que un cuidado innovador por su implementación cualificada en los currículos escolares de educación superior. Dado que la universidad es el espacio privilegiado para la consolidación, el perfeccionamiento y el desarrollo del conocimiento científico y del componente humano, la transversalidad de la lengua portuguesa es una innovación necesaria para que el universitario se convierta en un ciudadano del universo, capaz de imponerse en escenarios profesionales dispares anclados en el portugués.

Palabras clave: currículo universitario, lengua portuguesa, transversalidad.

INTRODUÇÃO

Nas Sagradas Escrituras pode ler-se: «No início era o Verbo e o Verbo estava voltado para Deus e o Verbo era Deus. Ele estava, no início, voltado para Deus. Tudo foi feito por meio dele e sem ele nada se fez do que foi feito. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens.» (João 1, 1-4).

Neste âmbito, o mito bíblico da Torre representa o castigo divino à soberba humana através da proliferação de idiomas: «Naquele tempo toda a humanidade falava uma só língua. (…) Depois eles disseram: “Vamos construir uma cidade com uma torre altíssima, que chegue até aos céus; dessa forma, o nosso nome será honrado por todos! (…) O SENHOR desceu para ver a cidade e a torre que estavam a levantar: “Vamos descer e fazer com que a língua deles comece a diferenciar-se, de forma que uns não entendam os outros. (…) Por isso, ficou a chamar-se Babel, porque foi ali que o SENHOR confundiu a língua dos homens e espalhou-os por toda a Terra.» (Genesis 11, 1-9).

As duas referências à religiosidade mostram que a linguagem não só antecede a própria humanidade, como é parte intrínseca dela desde os primórdios da existência humana. Neste âmbito, realce-se a importância do seu domínio nas cronológicas eras da civilização.

Recue-se à pré-história para se atentar à forma de comunicação através da arte rupestre - produção artística realizada pelos primeiros seres humanos - representada por meio de pinturas e desenhos feitos em pedras e nas paredes das cavernas usando sangue de animais e secreção de plantas.

Na Antiguidade Clássica, cultivava-se a retórica e sublimava-se a oratória. Esta era imortalizou oradores como o romano Marco Túlio Cícero e, na Grécia, os sofistas Platão, Sócrates e Demóstenes que, sendo gago, colocava pedras na boca, declamando poemas enquanto corria na praia contra o vento, no sentido de ser mais fluente.

A Idade Contemporânea dá-nos a conhecer estadistas cujo poder de eloquência arrastou falanges de súbditos para a prossecução dos objectivos políticos a que se propuseram, como Napoleão Bonaparte, Adolf Hitler, Benito Mussolini e Francisco Franco.

As referências apresentadas ilustram que o objectivo sublime da linguagem é a comunicação, necessidade inata ao ser humano. A ciência defende que o embrião, na placenta, escuta, conhece e reconhece a voz materna. Imediatamente após o parto, a preocupação primária é a de que o recém-nascido emita voz, chegando-se à prática de se dar uma palmadinha nas nádegas do bebé para que chore! Chegada a idade pré-escolar, se a criança tarda em comunicar, os progenitores recorrem à terapia da fala. Daqui se infere a fundamentalidade da comunicação para as relações sociais.

Note-se que um dos maiores desafios do presente século é o incremento de competências que permitam aos cidadãos enfrentarem as vicissitudes de uma sociedade em permanente transformação, o que requer um modelo de instrução focado nessas competências. Exemplo desse foco é a comunicação oral e escrita que deve ser potenciada através da abordagem transversal destas competências nas distintas áreas curriculares.(Sá, 2015)

Neste contexto, a leccionação em Português no ensino superior desempenha um papel importantíssimo por ter como objectivo desenvolver competências em comunicação oral e escrita não só para o sucesso académico (a interacção na sala de aula realiza-se em Português), como também para a vida diária (tanto social como pessoal).  Do exposto, deduz-se que a comunicação em Língua Portuguesa é uma competência essencial não apenas para a aprendizagem ao longo da vida, mas também para a estruturação do pensamento crítico.  Isto é, o domínio deste idioma é fundamental para o desenvolvimento de competências essenciais para a vivência da cidadania activa ancorada no asseguramento de uma comunicação fluída e no acesso a múltiplas áreas do conhecimento. (Sá, 2015)

Nesta esfera, a escola apresenta-se como o primeiro – e o maior – meio de sociabilização do cidadão, desde os anos imberbes à terceira idade.  É evidente que a comunicação impõe-se como mediadora da aglutinação entre os membros da comunidade escolar. É natural que a comunicação seja imprescindível para a transmissão e assimilação dos conteúdos programáticos. É óbvio que a comunicação seja o canal facilitador da relação entre estudantes e professores em momentos de recreação e de cumprimento das tarefas escolares.

Desde o século XV, Angola foi uma colónia portuguesa. Apesar da independência nacional, ocorrida em 1975, o Português permaneceu o idioma oficial do país.

Sendo o objectivo dos estudos universitários a formação globalizada de cidadãos, importa reflectir sobre a pertinência da Língua Portuguesa para a consecução do ensino globalizante almejado.

No que concerne ao domínio do Português, o sistema de ensino-aprendizagem angolano é refém da influência das línguas maternas, da inexistência da cultura da leitura e do número reduzido de modelos de falantes (e escreventes) do bom português por parte de pais, profissionais da comunicação social e de professores.

Outrossim, o facto de 300 milhões de pessoas (no mundo) terem o Português como língua oficial e este ser igualmente o idioma oficial da nação angolana requer dos agentes educativos, nomeadamente ministeriais, produtores de programas e directores escolares, um cuidado particular à lecionação e uso da língua pela comunidade académica. 

 É este contexto que justifica a reflexão sobre a necessidade da transversalidade da Língua Portuguesa no currículo universitário angolano. Mas o que se entende por transversalidade e currículo universitário, as duas variáveis do tema em reflexão? A informação dicionarizada dá conta de que o termo transversalidade resulta da junção de dois outros originais: transversal + idade; dá conta também que transversal significa o que atravessa e que transversalidade representa a qualidade do que é transversal. Conectando as significações, obtém-se a seguinte: aquilo que atravessa algo durante um período de tempo. No caso em apreço, aquilo que atravessa é representativo da Língua Portuguesa e algo, um curso superior. Por seu turno, currículo universitário espelha os planos de estudos subjacentes às licenciaturas de ensino superior. Deste modo, o que este artigo propõe é a discussão sobre a presença marcante do Português como factor aglutinador de facilitação das aprendizagens nas grelhas curriculares de que o ensino superior é composto.

No panorama das instituições de ensino superior angolanas, a Universidade Católica, a Faculdade de Letras da Universidade Agostinho Neto e o Instituto Superior de Ciências da Educação são as escolas onde se vislumbram maiores cuidados com o idioma de Luís de Camões, afirmando-se como uma referência para os demais estabelecimentos escolares.

Neste contexto, o Português – sobre forma de Língua Portuguesa ou de Comunicação Pessoal e Empresarial – integra o plano de estudos de cada uma das oito licenciaturas ministradas pelo Instituto Superior Politécnico de Ciências e Tecnologia (INSUTEC).

Compreendendo a importância singular da Língua Portuguesa no processo formativo dos instruendos, a Direcção Pedagógica do INSUTEC tem gizado instrumentos contributivos para a compreensão dos conteúdos programáticos, a facilitação da investigação e para a sua desenvoltura intelectual em ordem à integração bem-sucedida no mercado de trabalho, através da selecção criteriosa de docentes especialistas em Português, à Oficina de Língua Portuguesa, ao desconto obrigatório das incorrecções ortográficas nas provas escritas e às provas orais no Exame Especial para as disciplinas de Língua Portuguesa e Comunicação Pessoal e Empresarial. 

Os professores que leccionam as disciplinas de Língua Portuguesa e de Comunicação Pessoal e Empresarial têm experiência de docência universitária, avaliação positiva do seu desempenho e, como corolário da demonstração do domínio da língua, integram o corpo de jurados avaliador de Trabalhos de Conclusão de Curso no que à Língua Portuguesa diz respeito. 

O Português é tido como a base para a formação de todos os formandos, independentemente da licenciatura que frequentam, uma vez que desenvolve habilidades fundamentais, como a leitura, a escrita e a oralidade, que contribuirão para um desempenho profissional que se deseja satisfatório.

Por compreender a conveniência da transversalidade da Língua Portuguesa nas grelhas curriculares, a instituição disponibiliza a Oficina de Língua Portuguesa com participação voluntária e gratuita de estudantes dos oito cursos. Como a designação permite antever, a Oficina é um espaço de fabricação de conhecimento linguístico por meio da reflexão e maturação sobre o domínio do Português, concretizado de forma pedagogicamente lúdica. É por isso que este fórum académico objectiva a que os discentes interpretem textos orais de complexidade crescente e de diferentes géneros; desenvolvam técnicas de revisão de texto e uma reflexão crítica sobre o funcionamento da Língua para que se expressem melhor a fim de realizarem apresentações impactantes em público.

Com efeito, neste espaço de enriquecimento linguístico, docente e discentes têm a oportunidade semanal de se assenhorear da língua numa vertente pragmática, como demonstram as rubricas praticadas, dentre outras: os segredos da oratória; como controlar o medo de falar em público; o poder do orador: a palavra; qualidades do orador; como preparar e apresentar um discurso e passos para desenvolver a oratória.

Reconhecendo-se a importância da correcção ortográfica não só para a correcta explanação das matérias, como também para um desempenho profissional satisfatório, a obrigatoriedade da penalização classificativa por incorrecção ortográfica tem o duplo objectivo de conduzir docentes e discentes ao aperfeiçoamento da sua proficiência escrita a fim de os professores estarem habilitados a corrigir os erros ortográficos detectados nas provas e os alunos a serem mais rigorosos no uso da língua no acto da escrita.

O INSUTEC também entende que o domínio da Língua Portuguesa não deve estar circunscrito unicamente à componente escrita, mas deve abarcar a componente da oralidade. Assim, a prova oral no Exame Especial visa conscientizar o examinando para a importância de se expressar em bom Português com vista ao bom desempenho profissional. Nesse momento e espaço, o professor tem a derradeira oportunidade para limar arestas de incorrecções linguísticas produzidas pelo aluno no acto das respostas às questões formuladas. Para o curso de Direito, o instituto submeteu à consideração do Ministério do Ensino Superior a extensão do ensino da disciplina de Língua Portuguesa ao segundo ano com o objectivo de desenvolver nos alunos a capacidade argumentativa.

Todavia, para que os estudantes se apropriem deste modo de conviver com a Língua Portuguesa, tem de se convocar para esta causa os promotores da sua instrução: os docentes.

Efectivamente, os professores, enquanto mediadores do conhecimento, são peças-chave para a consubstanciação da transversalidade da língua em espaço de aula.  Por isso, devem imiscuir-se no projecto, sentirem-se parte integrante do mesmo, fazendo dele uma mais-valia para a exponenciação do rendimento escolar do estudante, por meio da compreensão e explanação adequadas das matérias e da potenciação do espírito crítico do mesmo. Este desiderato implica que os docentes de todas as disciplinas têm o dever deontológico de se adestrarem no domínio da Língua Portuguesa com o propósito da captatio benevolentiae (captação da benevolência) dos discentes para a desenvolvimento da sua capacidade linguística.

 A invocação a todos os docentes contextualiza que o exercício da transversalidade linguística é igualmente aplicável às ciências exactas como as matemáticas, estatísticas e afins. Apesar do pendor acentuadamente numérico, é sempre possível o formador exercitar a correcta oralidade na interacção com os formandos e avaliar a sua proficiência escrita por intermédio da inclusão de uma pergunta descritiva nas provas de classificação.

Não obstante a disparidade dos planos de estudo das oito licenciaturas, estes são correlacionáveis por um denominador comum: a ética e a deontologia.  No processo de  interacção, o docente não deve explorar unicamente a faculdade cognitiva do instruendo, mas, preferencialmente, a psicomotora. Isto é, a acção do formador sobre o formando deve provocar neste um movimento intrínseco e descendente do cérebro para o coração e ascendente, deste órgão para a cabeça. Quere-se com isto afirmar que os conteúdos programáticos devem ser fornecidos ao aluno untados pelo aconselhamento de condutas cívicas exemplares para que o estudante não só aprimore o domínio das matérias recebidas, mas também cultive valores éticos e deontológicos tendo em vista a sua acção modelar na sociedade. Não será este o objectivo sublime da educação? Logicamente, esse aconselhamento é veiculado em Língua Portuguesa. Destarte, quanto maior for o domínio da mesma, pelos docentes e discentes, mais profícua será a transmissão e a recepção desses valores humanitários.

Neste domínio, vale recuperar o aconselhamento do professor académico, Pedro Justino, no seu artigo “Falar e escrever correctamente: cabe apenas ao professor de Língua Portuguesa?” publicado no jornal O País, no dia 27 de Abril do presente ano: «(…) sendo uma língua transversal, a nosso ver, todos nós, quais professores, devemos contribuir para o acervo linguístico de nossos estudantes, independentemente da nossa área de formação e/ou a disciplina em que ministramos as aulas.

É comum, entre os professores, ouvir fugas de responsabilidades linguísticas – mesmo que mínimas – nas palavras como “eu não sou vosso professor de Língua Portuguesa”, “Falo e escrevo como bem entender, não ministro Português”. É verdade que, dentro da grelha curricular, cada um tem responsabilidades específicas, em função da disciplina que orienta. Contudo, pelo princípio da interdisciplinariedade, cada professor, a seu nível, deve esforçar-se em escrever e falar com mínimo de correcção linguística possível, para que, como atesta Suelela et al. (2020) citada por (Jacinto, 2023):

 …o modo de escrever e falar de professores que não ministram aulas de língua portuguesa, não façam parte das várias situações “que contribuem para que o ensino dessa língua, no país, continue a revelar problemas cintíficometodológicos graves, tornando, assim, a actividade do professor de língua cada vez menos rentável e a aprendizagem  do aluno cada vez mais estressante , menos significativa e menos transversal no currículo escolar” (p. 15).

Percebe-se, a partir do supracitado, que os demais professores devem ajudar os estudantes, mesmo nas suas disciplinas como Biologia, Matemática, Sociologia (só para dar alguns exemplos), a observarem, também, os aspectos linguísticos, mesmo que nos aspectos básicos.

(…)

Muitas vezes, aquilo que os estudantes aprendem como “o correcto” é visto, inicialmente, atropelado pelos professores das demais disciplinas. Expressões como “em que na qual”, “sejem e estejem”, são usadas pelos demais professores. Outros, ainda, escrevem muito mal, baralhando os estudantes sobre as formas correctas. Longe desta aparente única realidade, há, também, os demais professores de outras disciplinas, mas que dão grandes contributos na solidificação e aprendizagem da língua portuguesa, quer por meio da fala e escrita correctas, bem como por corrigirem, por exemplo, os desvios linguísticos com os quais se deparam por meio dos estudantes.

(…)

Não estamos a dizer, necessariamente, que todos os professores devem ter domínio cabal da língua portuguesa e passarem a preocupar-se unicamente com estas questões. Mas, também, seria bom que cometessem poucos erros/desvios linguísticos na sala de aula». Justino (2023) inquiriu, “Falar e escrever correctamente: cabe apenas ao professor de Língua Portuguesa?”,

Face ao exposto, uma interrogação se impõe: De que forma se pode potenciar a transversalidade da língua lusitana nos cursos de ensino superior, em Angola, concretamente no INSUTEC?

Já se fez alusão à pertinência do envolvimento pessoal dos professores neste processo, inovando a forma tradicional de leccionação. Atenhamo-nos a práticas didácticas que estes podem trabalhar, no espaço de aula, para que os estudantes desenvolvam as proficiências da oralidade e da escrita.

Na Oficina de Língua Portuguesa, incluir a técnica de projecção de voz para a potenciação da capacidade de persuasão. Para o efeito, aconselha-se a exibição de vídeos com discursos fluentes e conteúdos influentes de oradores emblemáticos internacionalmente reconhecidos, como o americano Martin Luther King, o brasileiro Lula da Silva e os portugueses Maques Mendes e Paulo Portas. Após o vídeo, decorrerão debates – com a sala disposta em U – acerca das técnicas de oratória usadas pelos oradores visualizados e escutados. Esta dinâmica tem a mais-valia de, primeiramente, o professor instruir os discípulos sobre as regras de participação num debate.

Nas salas onde se leccionam disciplinas da área curricular de Língua Portuguesa propõe-se a fomentação da Biblioteca de Turma - porta de entrada para a apreensão ilimitada de conhecimentos - como vaticinam as seculares expressões: “Quem lê vive várias vidas”; “Ler é crescer em silêncio”; “Ler é viajar sem sair do lugar” e “Ler prejudica gravemente a sua ignorância”.  Este exercício de troca de livros visa objectivos multifacetados: a aprimoração da leitura; a elevação do nível de literacia e a prática da oralidade por meio da explanação, pelos estudantes, da interpretação dos conteúdos das obras lidas.

Propõe-se que os professores congreguem os estudantes para a adesão activa às Jornadas Científicas levadas a efeito pelas instituições universitárias. Para o efeito, devem trabalhar com os discípulos atempadamente com vista à sua participação proactiva nessa montra do saber, através de dinâmicas linguísticas relacionadas com a proficiência comunicativa como teatro, tribunal simulado, concurso de leitura em voz alta (de poesia e de prosa) e até de concursos musicais do género do The Voice, com a condicionante de as canções concorrentes serem cantadas em Português.

Para a incrementação das proficiências da oralidade e da escrita em Língua Portuguesa, os docentes (pedras angulares do projecto) devem ter a liberdade de inventar actividades didácticas e iniciativa para reinventar técnicas metodológicas, no contexto das diversas áreas curriculares, que contribuam para um melhor domínio do idioma luso, como o diálogo sobre temáticas fulcrais para a área científica em questão – no que tange à oralidade; a identificação de ideias principais de textos escritos – no que concerne à compreensão da leitura; a escrita de diferentes tipologias textuais – no que respeita à escrita; e o domínio do glossário da área científica em questão, fundamental para a comunicação.oral.e.escrita.notáveis. (Sá, 2015)

O Português é uma língua falada em cinco continentes, com enorme potencial cultural (derivado da miscelânea com culturas africanas, asiáticas e sul-americanas), económico (está conectada a potências económicas consolidadas – como a brasileira – ou em ascensão, como a angolana) e político (pelo motivo de constituir idioma de trabalho em várias organizações mundiais). (Sá, 2015).

Por esta razão, o exercício da transversalidade da Língua Portuguesa nos currículos universitários é recomendável para que os cidadãos não permaneçam apenas angolanos, mas se tornem do mundo, munidos do conhecimento ilimitado que o Português pode conferir.

CONCLUSÃO

Do exposto, é possível concluir que, enquanto facilitadores do conhecimento, os professores são peças-chave para a materialização da transversalidade da Língua Portuguesa na sala de aula.  Para tanto, é imperioso que se sintam parte integrante do projecto, fazendo dele uma mais-valia para a exponenciação do rendimento escolar do estudante, por meio da compreensão e explanação adequadas das matérias.

Este desafio implica que os docentes, das disciplinas de todas as áreas do conhecimento, têm o dever deontológico de se adestrarem no domínio da Língua Portuguesa a fim de potenciarem o desenvolvimento não só da capacidade linguística do discente mas, sobretudo, do seu sentido de cidadania.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Justino, P. (2023), “Falar e escrever correctamente: cabe apenas ao professor de Língua Portuguesa?”, in https://www.pressreader.com/angola/opais-angola/20230427/281797108309234

Sá, C. M. (2015), “Transversalidade da língua portuguesa e sua promoção no mundo: reflexões sobre a sua abordagem na formação de professores”, in https://www.researchgate.net/publication/280575087_Transversalidade_da_lingua_portuguesa_e_sua_promocao_no_mundo_reflexoes_sobre_a-sua-abordagem_na_formacao_de_professores